Segundo veio a público na
imprensa, o jornalista José Milhazes irá apresentar em breve um livro em que se
refere aos arquivos da "PIDE-DGS" no qual entre outras afirmações
"conta ainda o episódio vivido por um agente soviético, Guenrikh Borovik,
que, passando por jornalista, em Maio de 1974, entra com "facilidade"
na sede da PIDE em Lisboa, na companhia de um português, tendo
"roubado" o próprio cartão de identidade de Silva Pais, o director da
então polícia política, apesar de ter sido revistado pelos militares do
Movimento das Forças Armadas que guardavam o edifício.".
É assim oportuno mencionar que nos arquivos do Centro de Documentação 25
de Abril (Universidade de Coimbra) consta no "Espólio 111" a
existência do "Bilhete de Identidade de Silva Pais, director da
PIDE/DGS", conforme se pode verificar a partir daqui.
Não se pode exigir a um jornalista que seja um historiador, porém os
textos que publica são objecto de análise por historiadores credenciados, que por
certo não deixam de os comparar com outras fontes.
Porém, uma vez publicados em livro, entram no circuito de referências
bibliográficas, pelo que acontece com frequência que o contraditório só surja
noutro livro muito tempo depois, situação que leva a que se forme no imaginário
colectivo uma ideia que não corresponde plenamente à verdade, a qual, quando se
torna pública, já ocorre em momento tardio demais para se corrigirem totalmente
erros de natureza histórica.
A Internet permite que se faça uma correcção mais imediata e susceptível
de aferição por entidades apropriadas, que no caso presente não deixariam por
certo de verificar se o alegado cartão de identidade de Silva Pais não seria
por exemplo o de associado de uma eventual associação desportiva dos
funcionários da polícia política...
Fica assim registada, por este meio, a dissonância entre dois testemunhos
que mostram a diferença entre o imaginário e a realidade.
A palavra aos historiadores.
8.Setembro.2013